Laura Restrepo

Ao retornar de uma viagem curta e encontrar a mulher, Agustina, fora de si num quarto de hotel, Aguilar tenta reconstituir o que teria acontecido. Com esse fiapo de trama, a escritora colombiana Laura Restrepo traça um painel inquietante da situação social e psíquica de seu país nas últimas décadas. Delírio, publicado originalmente em 2004, sobrepõe narradores e tempos para recompor uma realidade que perdeu a crença em si mesma, em que não se tem nenhuma certeza de que só os loucos cometem desvarios.

Em vez de artifício de autenticidade, a presença de personagens e fatos reais em meio à ficção intensifica a descarga de distúrbios no texto de Restrepo, enquanto o narcotraficante Pablo Escobar explode bombas nas ruas de Bogotá e o humor transborda-se em tragédia.

Nesta ficção "borderline", valorizada por uma prosa caótica, a sucessão das vozes injeta uma impressão alucinada na mente do leitor, que desde a primeira página é aspirado pelo turbilhão da insensatez.

Cássio Starling Carlos
Crítico da Folha